Se o petróleo desaparecesse amanhã, deixaria de haver jet, gasolina ou gasóleo. Os automóveis com motor de combustão interna, autocarros, camiões, camionetas, ficavam parados. Os aviões em terra. Os comboios de mercadorias e de passageiros, movidos a gasóleo, nas estações. Muitas pessoas não conseguiam ir para o trabalho, ou crianças para a escola. O setor dos transportes marítimos, tanto de mercadorias como de passageiros, sofria enormes consequências.
Não faria sentido chamar o 112. A maioria das ambulâncias, carros de bombeiros e da polícia, helicópteros de salvamento ficariam retidos. A maioria dos telefones e computadores desaparecia, uma vez que os seus componentes plásticos são derivados do petróleo. Seria difícil chegar a qualquer lado, uma vez que o asfalto que pavimenta as estradas e os caminhos desaparecia, e a borracha sintética utilizada nos pneus dos automóveis e das bicicletas também.
O setor da construção parava e com ele as escavadoras, bulldozers, camiões basculantes, gruas, betoneiras que funcionassem a gasóleo. Novas casas ou edifícios dificilmente podiam ser construídos ou receber trabalhos de manutenção.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, os produtos derivados do petróleo desapareciam com ele. Isto teria impacto na produção de veículos elétricos (VE). Para além da perturbação das cadeias de abastecimento, a estrutura das baterias de iões de lítio seria afetada. Uma bateria de iões de lítio tem quatro partes: um ânodo, um cátodo, um eletrólito e um separador. Os separadores são membranas microporosas projetadas, normalmente feitas de polietileno ou polipropileno, produtos derivados do petróleo.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, haveria consequências na produção alimentar. Muitos dos veículos necessários à agricultura deixavam de funcionar. As embalagens necessárias para o armazenamento e a conservação de alimentos também não estariam disponíveis. A falta do coque de petróleo, utilizado como matéria-prima no fabrico de fertilizantes sintéticos, podia desencadear a escassez de alimentos.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, seria catastrófico para os serviços de saúde. Para além dos transportes, o petróleo é uma matéria-prima essencial para vários produtos farmacêuticos, plásticos e material médico.
Luvas de látex, tubos médicos, seringas médicas, adesivos, algumas ligaduras, desinfetantes, agentes de limpeza, próteses, válvulas cardíacas artificiais, máscaras de reanimação, estetoscópios, scanners de ressonância magnética, canetas de insulina, sacos de infusão, embalagens de medicamentos, máscaras faciais e equipamento de proteção pessoal são em grande parte derivados de materiais à base de petróleo. O equipamento utilizado na investigação médica, como microscópios, tubos de ensaio e óculos de proteção, também contém componentes derivados do petróleo.
A síntese química que cria a aspirina começa com o benzeno, que é derivado do petróleo. O benzeno é convertido em fenol, que por sua vez é convertido em ácido salicílico. Este é depois transformado em ácido acetilsalicílico, que o mundo conhece como aspirina.
É difícil conceber um hospital moderno sem esta gama de produtos essenciais derivados do petróleo.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, o setor das energias renováveis seria afetado. A fibra de vidro, a resina ou o plástico necessário para a construção da maioria das turbinas eólicas desapareciam, e também o etileno utilizado na produção de painéis solares. A maior parte dos veículos como perfuradoras rotativas e perfuradoras de rocha, necessários para extrair os minerais de que depende a produção de centrais solares fotovoltaicas, parques eólicos e veículos elétricos, ficariam parados.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, talvez os telhados das casas se desmoronassem, por exemplo, porque o betume é um produto essencial. Outros materiais utilizados no isolamento das casas desapareciam. E se dependêssemos do gasóleo de aquecimento para nos mantermos quentes? Pintar as paredes seria um desafio. Já para não falar de que móveis, almofadas, tapetes, cortinas, pratos, chávenas e panelas antiaderentes podem também ser fabricados com produtos derivados do petróleo.
Seria um desafio mantermo-nos limpos, a nós e às nossas casas. Os detergentes para a roupa e para a loiça são geralmente derivados de produtos petrolíferos. O sabão, a pasta de dentes, o creme para as mãos, o desodorizante, o champô, o creme de barbear, os óculos, as lentes de contacto, os pentes, as escovas, todos contêm normalmente produtos derivados do petróleo.
Se o petróleo desaparecesse amanhã, perder-se-iam milhões de empregos. As receitas fiscais e a produção industrial seriam reduzidas. O crescimento económico inverter-se-ia. A situação da pobreza energética agravar-se-ia.
Esta não é sequer a lista completa de tudo o que seria afetado, num cenário tão impensável.
No entanto, apesar destas realidades, há apelos para "acabar com o petróleo" e slogans como “mantenham-no no solo" ou "não invistam em novos projetos de petróleo e gás".
Todos nós queremos reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. A Apetro acredita que novas soluções tecnológicas e as melhorias de eficiência energética podem desempenhar um papel vital no cenário da transição energética. A indústria petrolífera já é pró-ativa a este respeito e está a desenvolver soluções com combustíveis renováveis, que substituem o petróleo enquanto matéria-prima por matérias não fósseis. Este deverá ser o caminho sustentável no futuro, sem precipitações que possam causar disrupções de consequências devastadoras para a economia, bem-estar e mesmo para o ambiente.
Devemos ser cautelosos e não pôr em perigo o presente para salvar o futuro. É importante que todos compreendamos os imensos benefícios que o petróleo e os produtos derivados proporcionam às pessoas e aos países de todo o mundo.
Fonte: Artigo da OPEC
Inês Lopes - Analista de Informação, Apetro