APETRO - Energia em evolução

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setembro 2020

A Visão para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030 preparada pelo Prof. Costa e Silva (21/07/2020), recentemente referendada em consulta pública, e, depois de revista e aditada, entregue ao Governo português em cerimónia pública tida lugar em 15.09.2020, servirá de base para a preparação de uma proposta de Plano de Recuperação Nacional a apresentar em Bruxelas, pelo menos numa primeira versão draft à Comissão Europeia, até 15 de Outubro 2020.

Um dos principais eixos desta Visão, visivelmente aceite pelo Governo Português, solicitando aliás um amplo consenso nacional em torno da mesma, será o da Transição Energética que significa entre outros atributos, a utilização mais inteligente e eficiente da energia por um lado e a redução do consumo de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) por outro, substituindo-os progressiva e o mais rapidamente possível por recursos endógenos como as energias renováveis onde o Hidrogénio, obtido através de fontes renováveis ou não emitentes de CO2 em termos líquidos, que preferirei denominar por Hidrogénio Limpo (Clean Hydrogen) - CleanH2, terá um papel fundamental, contribuindo-se assim para a descarbonização do país em linha com o enorme e ambicioso desígnio europeu do “Green Deal”, a descarbonização completa da UE em 2050.

Esta Visão preparada pelo Prof. Costa e Silva teve portanto em consideração os objetivos definidos no Plano Nacional Energia Clima PNEC 2030, redução de um mínimo de 45% das emissões de GEE (Gases de efeito de estufa), sobretudo o anidrido carbónico CO2 seu componente principal, 35% de eficiência energética, 47% energia renovável total, mínimo de 20% de energia renovável nos transportes e 15% de interligações elétricas bem como a, mais recente, Estratégia Nacional para o Hidrogénio (aprovada em 14.08.2020), que por sua vez inclui metas muito concretas a cumprir até 2030, quer de injeção de CleanH2 nas redes de gás natural (10 a 15%), no consumo de energia do setor da indústria (2 a 5%), do transporte rodoviário (1 a 5%), do transporte marítimo doméstico (3 a 5%), etc. em linha com o PNEC.

Convém relembrar que o Hidrogénio por si, é fisicamente muito mais exigente que o Metano na sua utilização e no seu manuseamento (é a molécula mais pequena que existe), tem um poder calorífico por metro cúbico cerca de 4 vezes inferior ao do Metano e as suas temperaturas críticas e de condensação são respetivamente -240 e -253 graus Celcius, enquanto as do Metano são respetivamente -82 e -161. Portanto, entre outras comparações, além de exigente na sua produção, é caro no equipamento e condições de transporte e armazenagem que exige dadas as suas características. Por exemplo, na fase gasosa, exige uma compressão muito superior para num mesmo tanque (espaço) ser armazenada a mesma quantidade equivalente de energia quando comparado com o GN.

Admitindo-se mesmo uma redução substancial dos custos de produção de CleanH2 no futuro (2030?) bem como o aumento progressivo dos incentivos negativos – custo do carbono emitido ou de emissão evitada – atribuídos à utilização dos produtos energéticos emitentes de GEE, adicionados aos subsídios diretos e indiretos que esta alternativa hoje já conta e sem os quais a estratégia nacional para o Hidrogénio não faria qualquer sentido económico, será física e economicamente viável a utilização do CleanH2, por exemplo, nos transportes aéreos, marítimos e mesmo rodoviários pesados atuais, utilizando tanques altamente pressurizados e pesados (peso físico ou custo incomportável) ou a baixíssimas temperaturas próximas do zero absoluto?

Em alternativa, não fará sentido aproveitar o seu potencial químico e combinar o CleanH2 com o próprio CO2 do ar ou de qualquer outra fonte entretanto rica neste composto, sintetizando-se produtos energeticamente mais concentrados (e-metano, e-amónia, e-metanol, e-DME/e-OME, e-gasolina, e-gasóleo e e-jet) e sobretudo mais estáveis à temperatura e pressão ambiente, utilizando sistemas de armazenagem, distribuição e utilização já existentes com enorme impacto nos investimentos exigidos na alternativa anterior e consequentemente, muito maior rapidez de implementação no terreno?

A “química” para esta opção encontra-se estudada embora a diferentes níveis de TLR (grau de prontidão tecnológica). Num caso, o processo foi inventado na segunda guerra mundial (Fischer- Tropsch) chegando a ser utilizado, nessa altura, em momentos de acesso muito condicionado a petróleo bruto para obtenção dos combustíveis líquidos. Existem inclusive diversas vias possíveis requerendo, todas elas e ao estado atual da tecnologia, quantidades significativas de energia e, portanto, unicamente farão sentido se se admitirem as premissas anteriormente assumidas para a produção CleanH2, ie energia renovável abundante e a baixo preço.

Parece-nos portanto que esta última opção deve não só ser analisada como consideramos que apesar das condicionantes, é uma via indispensável para se conseguir a descarbonização dos transportes aéreos onde dificilmente se encontrará uma alternativa ambiental e energeticamente válida para os hidrocarbonetos hoje utilizados nos respetivos reatores. Estes produtos poderão preferencialmente ser produzidos a partir de origens biológicas não-emitentes em ciclo completo de vida mas para os quais os recursos naturais são limitados, ou finalmente, os Renewable Fuels of Non-biological Origin, incluindo os citados combustíveis sintéticos como vem amplamente descrito na Visão 2050 da Fuels Europe e mais concretamente na sua proposta Clean Fuels For All, cuja leitura e consideração mais uma vez se incentiva.

As outras formas de transportes utilizarão preferencialmente sistemas elétricos sempre que possível, opção justificada primeiramente pela sua enorme vantagem termodinâmica relativamente a qualquer sistema de combustão interna e em segundo lugar pelos custos reduzidos previstos para a energia elétrica renovável. No entanto, problemas de autonomia e/ou armazenagem de energia podem revelar-se determinantes para outras escolhas tal como a anteriormente sugerida, não sendo a eletrificação uma solução válida à partida para todos os casos.

Na transição energética não existem “balas de prata”, por mais que politicamente tal seja apelativo. Num contexto em que em breve ocuparemos a Presidência da Comissão Europeia, convém como sempre ouvir a ciência, mantendo tanto quanto possível as opções em aberto, mantendo um levelled and stable playing field para os operadores que investem os seus activos humanos e financeiros no desenvolvimento de novas formas sustentáveis de energia e da sua utilização eficiente, conjugado com políticas técnica e ambientalmente neutras, ie em que as opções são avaliadas pelos seus méritos caso a caso e não apostando tudo numa solução que a prazo se pode revelar custosamente errada.

Guido Albuquerque, Assuntos Internacionais, Apetro

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