O ano de 2022 era encarado como o da quase plena recuperação após o choque económico provocado pela crise pandémica do COVID-19. Mas com o eclodir da guerra na Ucrânia, estas perspetivas ficaram goradas. Para além da crise humanitária que afeta milhões de ucranianos, os efeitos do conflito na economia foram brutais, com a subida acentuada dos preços, o ressurgimento da inflação e até cenários de rutura das cadeias de abastecimento, nomeadamente na energia e produtos alimentares. Não havendo esperança de resolução deste conflito e até com o agravamento das tensões noutras geografias, o ano de 2023 será muito desafiante para todos os agentes económicos, decisores políticos e população.
Perante esta realidade a palavra de ordem da União Europeia, no que diz respeito à agenda da energia e do clima, é acelerar a transição energética como consignado no RepowerEU, embora se reconheça que ainda há muitas incógnitas relativamente a algumas tecnologias e pouca garantia de acesso a matérias-primas e componentes em que a EU é fortemente deficitária. De qualquer modo esta visão é suportada por muitos decisores políticos e a AIE incentiva-a no recém-publicado “World Energy Outlook 2022”. O pacote legislativo da Comissão Europeia conhecido pelo “Fit for 55”, vem avançando, embora com alguns sobressaltos e percalços e fazem antever um ano de 2023 de grandes desafios para os nossos setores de atividade.
É neste ambiente de grande incerteza, sem paralelo na história recente, que a nossa indústria vai prosseguir os seus esforços de adaptação às novas circunstâncias. A pressão política e social para a substituição das fontes de energia fósseis por fontes renováveis vai continuar a acentuar-se. Daí que o roteiro “Combustíveis limpos para todos” e iniciativas de diferentes organizações da Sociedade, como a criação da Plataforma para a promoção do Combustíveis de Baixo Carbono, tenham uma importância decisiva, atendendo a que o quadro legislativo e regulatório europeu não favorece o desenvolvimento e a penetração destes combustíveis líquidos no transporte rodoviário, o que se traduz em grande incerteza para o setor e para os consumidores.
É um desafio exigente do ponto de vista do enfoque e dos recursos a disponibilizar. Para além destas questões de carácter estratégico e de posicionamento da nossa indústria relativamente à transição energética e ao processo de descarbonização em curso, teremos de manter a segurança das nossas operações, continuando a disponibilizar os produtos e serviços de que a economia não pode abdicar. Isso implicará também estar atento a questões de curto e médio prazo que possam ter implicações importantes. Em suma, a palavra de ordem continuará a ser “preparamos o futuro, sem descurar o presente”. O posicionamento e imagem da Apetro – Energia em Evolução enquadra-se com este cenário e com os desafios enumerados, mantendo-se atual sem prejuízo de uma eventual reformulação.
António Comprido, Secretário Geral Apetro