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31 de março de 2025

De Green para Clean – Uma correção de rumo na União Europeia?

Coincidindo com a recente e importante iniciativa política “Clean Industrial Deal” da atual Comissão Europeia, em resposta ao largamente comentado Relatório Draghi, não nos passou desapercebida a substituição do termo mais habitual "green" (verde) por "clean" (limpo) nos discursos e respetivas declinações políticas e legislativas mais recentes.

Espera-se que não seja só mais uma moda, mas antes represente uma evolução necessária e uma correção pragmática aos exageros e idealismos muitas vezes impraticáveis associados ao "green".

Enquanto que "green" carregava uma visão romantizada e ampla de preservação do planeta, perdendo-se frequentemente em promessas utópicas que ignoravam as realidades económicas, tecnológicas e sociológicas, o termo "clean" emerge como uma abordagem mais madura e focada, priorizando soluções concretas, como tecnologias alternativas para a descarbonização e eficiência energética, que respondam aos desafios do presente sem sacrificar o progresso humano e que asseguram a escolha do cidadão.

O termo "green" muitas vezes acompanhava políticas ambiciosas, que soavam bem em discursos, mas que eram vagas, como a proteção irrestrita de ecossistemas ou a rejeição total de fontes de energia convencionais, sem oferecer alternativas viáveis à escala necessária, gerando um risco, infelizmente já visível, de paralisia económica e social, especialmente no âmbito da energia e em países dependentes de grandes indústrias pesadas e tradicionais.

Fazemos portanto votos para que o "clean" das instâncias de Bruxelas, neste âmbito da Energia, signifique o redirecionar do foco para o que é factível e temos defendido desde sempre: substituição das fontes fósseis por energias renováveis, em todas as suas formas disponíveis, fazendo valer o sucesso de cada uma pelos seus próprios méritos comprovados e certificados em cada aplicação – neutralidade tecnológica – revertendo-se a decisão da escolha política e obrigatória de uma única solução, que flagrantemente se sobrepõe a critérios económicos e sociais.

Do nosso lado, embora críticos das escolhas políticas tomadas até agora, nunca esteve em causa o duplo objetivo da neutralidade carbónica e de independência energética que a EU se propôs atingir – What – mas antes, o que temos vindo a questionar é a solução escolhida, o como lá chegar –How.

Dando como exemplo a transição energética nos transportes na UE, a sua eletrificação não é, em nosso entendimento, a única forma de se atingir a sua neutralidade carbónica no futuro como vem defendendo a Comissão Europeia: dependendo da sua utilização, a eletrificação pode mesmo ser (1) impossível, como será o caso dos transportes aéreos e marítimos (na sua esmagadora maioria) e (2) muito limitada como será o caso dos transportes pesados de mercadorias e passageiros (longo curso).

Para estas aplicações, além dos “energy carriers“ sintéticos fabricados a partir do CO2 do ar e hidrogénio obtido por eletrólise da água, devem ser utilizados, como já hoje, combustíveis fabricados a partir de matérias-primas renováveis quer biológicas ou não-biológicas, que ao serem processadas e por fim utilizadas, não acrescentam Gases de Efeito de estufa à atmosfera. Fabricados, portanto, num processo de reciclagem virtuoso, são ainda compatíveis com os produtos de origem fóssil permitindo o aproveitamento das mesmas infraestruturas de distribuição e, em parte, de fabricação.

Finalmente, acreditamos que a primazia do "clean" sobre o "green" não é uma traição aos ideais climáticos, mas uma correção de rumo e a UE ao adotar essa nova terminologia, sinaliza que o objetivo não é apenas sonhar com uma Europa neutra em emissões de carbono, mas antes construir um futuro onde a inovação e a preservação ambiental e climática caminhem juntas, superando as limitações de um "green" que, por vezes, se mostrava mais poético do que prático.

Esperemos, portanto, que esta alteração de Green para Clean não seja só maquilhagem, mas que esta alteração de linguagem reflita uma adaptação da política à realidade, reconhecendo-se que a transição energética precisa de ser tecnicamente executável e economicamente sustentável.

Guido Albuquerque, Engº
Assessor Assuntos Internacionais EPCOL

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