
A 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, realizada em Belém, ficará registada como mais um momento em que a urgência da ciência climática se confrontou com as realidades da diplomacia internacional. Os próprios representantes europeus reconheceram que o resultado final ficou aquém do necessário para responder à crise climática. A resistência de um conjunto significativo de países com interesses energéticos alinhados, aliada a uma presidência pouco disposta a elevar o nível de ambição, travou um avanço mais robusto em áreas críticas, nomeadamente a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. No entanto, mesmo numa COP marcada por frustrações e avanços insuficientes, emergiu um desenvolvimento que merece ser destacado com firmeza e congratulação: a decisão de avançar com o compromisso Belém 4X, que propõe quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 com base em políticas já existentes ou anunciadas.
O Belém 4X representa um momento particularmente relevante porque responde diretamente à necessidade de acelerar a descarbonização global de forma pragmática e inclusiva. Ao contrário de outras iniciativas que dependem de tecnologias ainda em maturação ou de investimentos avultados que muitos países não conseguem suportar, o compromisso centra-se em soluções que já existem, que podem ser rapidamente ampliadas e que são compatíveis com infraestruturas energéticas atuais. Trata-se de um passo concreto numa direção que não exige que o mundo abandone a sua matriz energética de um dia para o outro, mas que permite reduzir emissões de forma significativa nos setores mais difíceis de descarbonizar tais como aviação, transporte marítimo, indústria pesada e, em muitos casos, o transporte rodoviário de longo curso.